"Você freqüenta o meio?"
Lembro-me do meu início na vida gay, quando eu sequer tinha certeza do que gostava ou deixava de gostar, mas dispunha-me a experimentar o contato íntimo com outros homens. Nas conversas em chats na internet, ou no msm, a indagação sobre o "meio", muito comum entre os iniciantes e os enrustidos (e no meu caso eu era ambos), aparecia tanto quanto o famigerado "Você é A ou P?".
Durante muito tempo, relutei em ir a lugares gays, especialmente por medo de ser reconhecido. Também a atmosfera de alguns deles, muito sombria e erotizada, não me trazia uma energia boa. Questionava-me por que tais lugares tinham que ser, ao mesmo tempo, locais para esconder o rosto das pessoas "lá de fora" e pra expor o corpo pras pessoas "lá de dentro". Por essas e outras, muitas pessoas valorizam os que não "freqüentam o meio" quase tanto quanto aquelas que são "discretos" e "não afeminados". No fundo, parece que o contato com outros gays ganha um aspecto "contagioso", que a afetação é transmitida pelo toque, ou pelo ar, ou que homossexuais são classificados pelos seus próprios pares em categorias que chamaria de, digamos... "graus de viadagem".
Minha introdução no "meio" se deu de forma lenta, gradual e irreversível. Aos poucos, fui conhecendo lugares novos. Percebi que só se embrenha na escuridão e na promiscuidade quem deseja. Identifiquei locais bacanas, abertos, iluminados, cheios de saúde e vida. Principalmente, vi-me em alguns ambientes em que me senti à vontade, podendo ver e ser visto sem medo de qualquer represália. Isso tudo sem me agredir, sem mudar meu jeito de ser, agir ou pensar.
Acontece que, nas últimas semanas, até mesmo pelo recente final de meu namoro, acabei por um movimento "natural" restabelecendo contatos com amigos "das antigas", dos tempos de colégio e faculdade. Coincidiu ainda de, em dois finais de semanas seguidos, eu comparecer a três casamentos e um churrasco, todos com turmas de amigos heteros, que não sabem (e nem se mostram interessados em saber) sobre minha sexualidade.
No entanto, impossível não registrar que ao lado da alegria dos reencontros com várias pessoas queridas, com as quais meu contato havia rareado, estes eventos também me trouxeram momentos de um certo incômodo.
Era chato ser o único desacompanhado no meio de vários casais.
Era chato perceber que eu fui um dos únicos que recebeu apenas um "convitinho" pra festa, ao invés de dois.
Era chato ver que, ao final da noite, os poucos solteiros sempre tratavam de abordar e mulheres do local, quase sempre com sucesso (ah, no meu tempo de hetero as mulheres nunca davam esse mole todo!).
Era chato perceber que as mulheres no local não me interessavam, e que mesmo pelos próprios homens eu não me empolgava.
Era chato me sentir quase um ser assexuado.
Nestas situações, por mais que me encontrasse entre amigos, e por mais que percebesse que não havia qualquer pressão ou expectativa sobre minha pessoa, era fato que eu me sentia "sem ambiente". Tal como uma pessoa que se sente incomodada quando não tem o hábito de usar gravata e é obrigada a vestir num evento especial. Ou uma pessoa que coloca um sapato novo e caminha a tarde inteira com o calçado apertando o calcanhar. Só que meu incômodo era na alma. De alguma forma me sentia tolhido em parte importante da minha integridade. Não consegui agir em plena liberdade.
Por essas e outras que após um dos casamentos não hesitei em sair no final da festa e ir diretamente para uma boate gay daqui da cidade. Lá, mesmo estando sozinho, me senti liberto de minhas próprias amarras. E a sensação de liberdade da alma que vivenciei me mostrou que, mesmo com todas as ressalvas que eu ainda pudesse ter ao "meio", certamente aquele era muito mais o meu ambiente.
Lembro-me do meu início na vida gay, quando eu sequer tinha certeza do que gostava ou deixava de gostar, mas dispunha-me a experimentar o contato íntimo com outros homens. Nas conversas em chats na internet, ou no msm, a indagação sobre o "meio", muito comum entre os iniciantes e os enrustidos (e no meu caso eu era ambos), aparecia tanto quanto o famigerado "Você é A ou P?".
Durante muito tempo, relutei em ir a lugares gays, especialmente por medo de ser reconhecido. Também a atmosfera de alguns deles, muito sombria e erotizada, não me trazia uma energia boa. Questionava-me por que tais lugares tinham que ser, ao mesmo tempo, locais para esconder o rosto das pessoas "lá de fora" e pra expor o corpo pras pessoas "lá de dentro". Por essas e outras, muitas pessoas valorizam os que não "freqüentam o meio" quase tanto quanto aquelas que são "discretos" e "não afeminados". No fundo, parece que o contato com outros gays ganha um aspecto "contagioso", que a afetação é transmitida pelo toque, ou pelo ar, ou que homossexuais são classificados pelos seus próprios pares em categorias que chamaria de, digamos... "graus de viadagem".
Minha introdução no "meio" se deu de forma lenta, gradual e irreversível. Aos poucos, fui conhecendo lugares novos. Percebi que só se embrenha na escuridão e na promiscuidade quem deseja. Identifiquei locais bacanas, abertos, iluminados, cheios de saúde e vida. Principalmente, vi-me em alguns ambientes em que me senti à vontade, podendo ver e ser visto sem medo de qualquer represália. Isso tudo sem me agredir, sem mudar meu jeito de ser, agir ou pensar.
Acontece que, nas últimas semanas, até mesmo pelo recente final de meu namoro, acabei por um movimento "natural" restabelecendo contatos com amigos "das antigas", dos tempos de colégio e faculdade. Coincidiu ainda de, em dois finais de semanas seguidos, eu comparecer a três casamentos e um churrasco, todos com turmas de amigos heteros, que não sabem (e nem se mostram interessados em saber) sobre minha sexualidade.
No entanto, impossível não registrar que ao lado da alegria dos reencontros com várias pessoas queridas, com as quais meu contato havia rareado, estes eventos também me trouxeram momentos de um certo incômodo.
Era chato ser o único desacompanhado no meio de vários casais.
Era chato perceber que eu fui um dos únicos que recebeu apenas um "convitinho" pra festa, ao invés de dois.
Era chato ver que, ao final da noite, os poucos solteiros sempre tratavam de abordar e mulheres do local, quase sempre com sucesso (ah, no meu tempo de hetero as mulheres nunca davam esse mole todo!).
Era chato perceber que as mulheres no local não me interessavam, e que mesmo pelos próprios homens eu não me empolgava.
Era chato me sentir quase um ser assexuado.
Nestas situações, por mais que me encontrasse entre amigos, e por mais que percebesse que não havia qualquer pressão ou expectativa sobre minha pessoa, era fato que eu me sentia "sem ambiente". Tal como uma pessoa que se sente incomodada quando não tem o hábito de usar gravata e é obrigada a vestir num evento especial. Ou uma pessoa que coloca um sapato novo e caminha a tarde inteira com o calçado apertando o calcanhar. Só que meu incômodo era na alma. De alguma forma me sentia tolhido em parte importante da minha integridade. Não consegui agir em plena liberdade.
Por essas e outras que após um dos casamentos não hesitei em sair no final da festa e ir diretamente para uma boate gay daqui da cidade. Lá, mesmo estando sozinho, me senti liberto de minhas próprias amarras. E a sensação de liberdade da alma que vivenciei me mostrou que, mesmo com todas as ressalvas que eu ainda pudesse ter ao "meio", certamente aquele era muito mais o meu ambiente.
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