Analitics

quinta-feira, setembro 25, 2008

O "meio" e o ambiente


"Você freqüenta o meio?"

Lembro-me do meu início na vida gay, quando eu sequer tinha certeza do que gostava ou deixava de gostar, mas dispunha-me a experimentar o contato íntimo com outros homens. Nas conversas em chats na internet, ou no msm, a indagação sobre o "meio", muito comum entre os iniciantes e os enrustidos (e no meu caso eu era ambos), aparecia tanto quanto o famigerado "Você é A ou P?".

Durante muito tempo, relutei em ir a lugares gays, especialmente por medo de ser reconhecido. Também a atmosfera de alguns deles, muito sombria e erotizada, não me trazia uma energia boa. Questionava-me por que tais lugares tinham que ser, ao mesmo tempo, locais para esconder o rosto das pessoas "lá de fora" e pra expor o corpo pras pessoas "lá de dentro". Por essas e outras, muitas pessoas valorizam os que não "freqüentam o meio" quase tanto quanto aquelas que são "discretos" e "não afeminados". No fundo, parece que o contato com outros gays ganha um aspecto "contagioso", que a afetação é transmitida pelo toque, ou pelo ar, ou que homossexuais são classificados pelos seus próprios pares em categorias que chamaria de, digamos... "graus de viadagem".

Minha introdução no "meio" se deu de forma lenta, gradual e irreversível. Aos poucos, fui conhecendo lugares novos. Percebi que só se embrenha na escuridão e na promiscuidade quem deseja. Identifiquei locais bacanas, abertos, iluminados, cheios de saúde e vida. Principalmente, vi-me em alguns ambientes em que me senti à vontade, podendo ver e ser visto sem medo de qualquer represália. Isso tudo sem me agredir, sem mudar meu jeito de ser, agir ou pensar.

Acontece que, nas últimas semanas, até mesmo pelo recente final de meu namoro, acabei por um movimento "natural" restabelecendo contatos com amigos "das antigas", dos tempos de colégio e faculdade. Coincidiu ainda de, em dois finais de semanas seguidos, eu comparecer a três casamentos e um churrasco, todos com turmas de amigos heteros, que não sabem (e nem se mostram interessados em saber) sobre minha sexualidade.

No entanto, impossível não registrar que ao lado da alegria dos reencontros com várias pessoas queridas, com as quais meu contato havia rareado, estes eventos também me trouxeram momentos de um certo incômodo.

Era chato ser o único desacompanhado no meio de vários casais.
Era chato perceber que eu fui um dos únicos que recebeu apenas um "convitinho" pra festa, ao invés de dois.
Era chato ver que, ao final da noite, os poucos solteiros sempre tratavam de abordar e mulheres do local, quase sempre com sucesso (ah, no meu tempo de hetero as mulheres nunca davam esse mole todo!).
Era chato perceber que as mulheres no local não me interessavam, e que mesmo pelos próprios homens eu não me empolgava.
Era chato me sentir quase um ser assexuado.

Nestas situações, por mais que me encontrasse entre amigos, e por mais que percebesse que não havia qualquer pressão ou expectativa sobre minha pessoa, era fato que eu me sentia "sem ambiente". Tal como uma pessoa que se sente incomodada quando não tem o hábito de usar gravata e é obrigada a vestir num evento especial. Ou uma pessoa que coloca um sapato novo e caminha a tarde inteira com o calçado apertando o calcanhar. Só que meu incômodo era na alma. De alguma forma me sentia tolhido em parte importante da minha integridade. Não consegui agir em plena liberdade.

Por essas e outras que após um dos casamentos não hesitei em sair no final da festa e ir diretamente para uma boate gay daqui da cidade. Lá, mesmo estando sozinho, me senti liberto de minhas próprias amarras. E a sensação de liberdade da alma que vivenciei me mostrou que, mesmo com todas as ressalvas que eu ainda pudesse ter ao "meio", certamente aquele era muito mais o meu ambiente.

domingo, setembro 21, 2008

E a frase é... (1)



"Senta no patinho!"

A série “E a frase é...” é uma coletânea de frases emblemáticas que, em algum momento, por algum motivo , dita por alguma pessoa, ganhou um significado único, normalmente engraçado (quando não hilariante). Só que fora do seu devido contexto, estas frases parecerão estranhas e sem sentido para a quase totalidade dos leitores. Esta série tem o objetivo de documentar estas frases para o Autor do blog e instigar a imaginação de seus leitores sobre quem/como/quando/onde foram ditas.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Sufoco


Queria escrever um post sobre Tutu, meu último namorado estive junto por um ano e meio, sendo que o namoro terminou há quase um mês, dando origem ao post abaixo. A idéia era escrever sobre como ele é um cara bacana, animado, bonito, e também como mesmo tendo um jeitão todo de criança, agiu de forma extremamente madura quando de nosso término. Só pra registro, eu terminei o namoro só que, no final da nossa conversa, era ele que me consolava!

Comecei a escrever o post, mas não consegui terminar. No início, parava pra conter algumas lágrimas. Depois o tempo foi passando e me vi absorvido por várias outras tarefas. Quando dei por mim, já tinha perdido o timing daquilo que seria uma homenagem e ao mesmo tempo um registro de despedida.

Também por isso acabei não escrevendo sobre o final de semana que passei no Rio, na casa do Râzi e do , que foram (como sempre) uns amores, e escreveram sobre a visita na época. Então deixo os links dos relatos aqui e aqui, sorrateiramente surrupiando os seus textos e agradecendo novamente todo o carinho recebido.

No entanto, devo registrar que as últimas semanas foram de bastante sufoco, em vários aspectos. Alguns dos visitantes deste espaço sabem que trabalho em dois locais: um negócio próprio e um serviço público. Pois exatamente nesta época houve uma espécie de auditoria no meu serviço público (na verdade, a primeira de três que acontecerão no intervalo de pouco mais de um mês).

Os dias que antecederam a data desta “auditoria” (que ocorreu no último dia 09 de novembro) foram de bastante tensão, até porque toda uma documentação que deveria providenciar simplesmente dependia do envio de outros setores sobre os quais eu não tinha controle. E depender dos outros em casos assim é uma merda!

Bom, não devo negar que boa parte na “culpa” foi minha, uma vez que deixei algumas providências para a última hora e não tomei as devidas cautelas para o caso. Mas foi a primeira vez que fiquei responsável por isso em anos de trabalho no setor. Faltou experiência, vivência, uma certa maldade até.

No final, tudo deu certo. Por pouco, mas deu. Fomos até elogiados pelos “visitantes”. Naquela terça-feira, por este e por outros motivos, fui tomado por uma sensação de alívio pelos resultados obtidos, mas também saí com a sensação de alerta para que nunca mais me colocasse vulnerável novamente.

Desde então os dias têm se seguido, ainda com muito trabalho, mas sem a “faca no pescoço”, até porque muitas das providências já tomadas servirão para as duas próximas auditorias marcadas para breve. O negócio é que, nos finais de semana, ao invés de aproveitar para descansar dos dias corridos, acabei dando minhas voltas pela night belorizontina.

No último final de semana, por exemplo, tive dois casamentos de amigos de faculdade (sábado e domingo). No próximo sábado, tenho programado outro casamento, de amigo do trabalho (no qual serei padrinho!) e ainda um churrasco de despedida de um amigo da turma de colégio.

E nesse momento reparo que, como em outras oportunidades, o final de um namoro me leva a retomar contatos com amigos “das antigas”, dos quais eu invariável e involuntariamente me afasto quando estou com alguém. Enfim, estou me readaptando à vida “de solteiro”, sem saber quanto tempo levarei até encontrar um novo ponto de equilíbrio.
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