Se um dia resolvesse ser padre, acho que no seminário eu tiraria as maiores notas na matéria "Atendimento no Confessionário". Desde há bastante tempo, inúmeras pessoas, de inúmeras origens, pelos interesses mais diversos, encontraram em mim porto seguro para suas confidências. Lembro-me, por exemplo, de uma garota com quem saí na adolescência – é, teve época que eu (achava que) era hetero – e já no primeiro encontro ela danou a me contar coisas escabrosas de sua família, sobre as dificuldades de relacionamento com os pais, casos de infidelidade, etc. À medida que a garota falava, eu tentava não mostrar uma cara de espantado, mas indagava com meus botões por que diabos ela revelava coisas tão cabeludas pra uma pessoa que mal a conhecia.
Outro exemplo, mais recente. Há poucos anos, um conhecido gay (na época éramos até amigos) veio me relatar sobre um abuso que sofreu na adolescência, na sua cidade de origem no interior de Minas, por parte de um sujeito um pouco mais velho (deviam ter cerca de 13 e 16 anos). Ele me relatava, com lágrimas nos olhos, os sentimentos que teve quando viu o sujeito anos depois, no seu local de trabalho em BH, descrevendo sobre o nojo que sentiu, e sobre outros detalhes mais íntimos do trauma que o episódio lhe causou.
Penso que nestes casos, como em dezenas de outros, as pessoas viram em mim uma pessoa confiável, à qual poderiam narrar segredos de diversas naturezas, com a certeza de que tais relatos não seriam reproduzidos. E eu realmente sei guardar apenas para mim as confidências que me são feitas, mesmo que isto me custe a perda de certas oportunidades que uma "língua solta" poderia me trazer.
O problema é que o tempo foi passando, e a experiência acumulada acabou por me atiçar outro papel junto ao de confidente: o de conselheiro. Sim, agregado à função de ouvir os casos alheios, em algumas oportunidades, aventurei-me a dar meus pitacos sobre o que achava das situações. E, na quase totalidade das vezes, por questão de extrema cautela, impus-me a regra básica de que conselho só é dado a quem pede. Quando muito, pode ser sugerido a quem demonstra precisar muito, e olhe lá!
Só que começo a ver que esta "função agregada" é por demais traiçoeira. E mesmo com a regrinha básica acima mencionada, muitas vezes a pessoa que pede sua opinião logo depois mostra que preferiria realmente não ouvir o que você tem a dizer. E nisso surgem situações deveras desagradáveis.
Certa vez recebi um SMS com estes exatos dizeres: "Te mandei email. Olha lá se puder e comente. Seus comentários me são muito importantes, sabe disso. Bjo." Por essas e outras tantas situações, recentemente, julguei-me na liberdade de dar palpites na vida alheia. Ledo engano. Disse muita coisa desagradável e, em troca, recebi outras tantas de igual ou maior aspereza. E não me cabe analisar quem está "certo" ou "errado". (Possivelmente, errados fomos os dois.) Nem me cabe também querer imbuir-me das dores e aflições alheiras até porque outra pessoa também já me acusou de ser incapaz de me colocar na posição de meus interlocutores.
Nisso tudo, vejo que tenho que aprender a avaliar melhor as situações e, via de regra, começar a agir tal como Wilson, a bola de volei companheira de Chuck Noland, personagem de Tom Hanks no filme "Náufrago". Com seu semblante impassível, Wilson foi capaz de acompanhar as agruras de Chuck anos a fio, sem lhe dirigir um único palpite errado ou comentário torto. Mesmo em silêncio, ele foi mais capaz de dar-lhe ânimo que centenas de palavras bem intencionadas não conseguiriam. E, no final, Chuck acabou chegando bem casa.
Penso que nestes casos, como em dezenas de outros, as pessoas viram em mim uma pessoa confiável, à qual poderiam narrar segredos de diversas naturezas, com a certeza de que tais relatos não seriam reproduzidos. E eu realmente sei guardar apenas para mim as confidências que me são feitas, mesmo que isto me custe a perda de certas oportunidades que uma "língua solta" poderia me trazer.
O problema é que o tempo foi passando, e a experiência acumulada acabou por me atiçar outro papel junto ao de confidente: o de conselheiro. Sim, agregado à função de ouvir os casos alheios, em algumas oportunidades, aventurei-me a dar meus pitacos sobre o que achava das situações. E, na quase totalidade das vezes, por questão de extrema cautela, impus-me a regra básica de que conselho só é dado a quem pede. Quando muito, pode ser sugerido a quem demonstra precisar muito, e olhe lá!
Só que começo a ver que esta "função agregada" é por demais traiçoeira. E mesmo com a regrinha básica acima mencionada, muitas vezes a pessoa que pede sua opinião logo depois mostra que preferiria realmente não ouvir o que você tem a dizer. E nisso surgem situações deveras desagradáveis.
Certa vez recebi um SMS com estes exatos dizeres: "Te mandei email. Olha lá se puder e comente. Seus comentários me são muito importantes, sabe disso. Bjo." Por essas e outras tantas situações, recentemente, julguei-me na liberdade de dar palpites na vida alheia. Ledo engano. Disse muita coisa desagradável e, em troca, recebi outras tantas de igual ou maior aspereza. E não me cabe analisar quem está "certo" ou "errado". (Possivelmente, errados fomos os dois.) Nem me cabe também querer imbuir-me das dores e aflições alheiras até porque outra pessoa também já me acusou de ser incapaz de me colocar na posição de meus interlocutores.
Nisso tudo, vejo que tenho que aprender a avaliar melhor as situações e, via de regra, começar a agir tal como Wilson, a bola de volei companheira de Chuck Noland, personagem de Tom Hanks no filme "Náufrago". Com seu semblante impassível, Wilson foi capaz de acompanhar as agruras de Chuck anos a fio, sem lhe dirigir um único palpite errado ou comentário torto. Mesmo em silêncio, ele foi mais capaz de dar-lhe ânimo que centenas de palavras bem intencionadas não conseguiriam. E, no final, Chuck acabou chegando bem casa.
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