Já era uma
tradição: toda viagem ao Rio significava a compra de uma sunga nova na praia de
Ipanema. Ali mesmo, na areia, ficada uma porção de areia um pouco elevada, onde
as centenas de sungas eram expostas. Coloridas. Provocantes. Para todos os
gostos. O cara que assinava as sungas estava sempre por lá. E sempre mais um ou
dois caras, sempre sarados, vestindo alguma das peças. Batata! Você vê um
sujeito gostosão com a sunga e se imagina do mesmo jeito com ela. Hahaha! Quem
na gosta de se enganar, né? Eu mesmo me enganei assim várias vezes.
O roteiro
não variava muito. Achava uma sunga bonita. “Tem que ver como fica no corpo.
Experimenta aí.” O bonitão vem com uma canga e te envolve para você fazer a
troca, no meio da praia. Vira de um lado. “Olha só como ficou bacana…” Vira de
outro. “Esse tecido assim valoriza o material.” Olho no olho. Sorrisão aberto. “E
aí, gostou?” Quase sempre nem destrocava a peça. Chora um pouco o preço, pede
desconto pra levar mais de uma, e a minha coleção de sungas “Ricardo Diniz” só
aumentava.
Nunca levei
um produto que não gostasse, mas reconheço que o atendimento fazia toda a
diferença. Já na viagem de outubro passado o procurei, mas não o achei.
Perguntei a uma pessoa de uma barraca que fica lá perto. “Olha, um menino que
trabalhava com ele saiu. Ele parou de vir todo dia, aparece de vez em quando.” Desconfio
que o tal menino era mais que mero funcionário, mas também namorado, marido,
sei lá… No reveillon, procurei novamente, em vão. Pena!
Indicaram a
mim um outro ponto lá perto onde também havia sungas a venda. Abaixo de um
guarda-sol branco com estampas em verde. Algumas das sungas estavam penduradas no
guarda-sol, e outras em uma enorme bolsa na areia. “Pode olhar os modelos
aqui.” indica o vendedor, que atuava só, indicando que poderia espalhar as
peças numa canga ao lado. Começo a olhar sem tirar as sungas de lá. Variedade
bem menor. Beleza bem menor. O sujeito se põe na minha frente de forma abrupta,
como se estivesse fazendo algo errado. “Não é assim. Deixa que eu mostro pra
você, bebê.” e dispara a expor as sungas que eu já tinha visto (e detestado) na
tal canga.
Já fiquei
espantado. Que deselenagnte! Quem a maricona pensa que é? Afinal, que nasceu pra Bruxa do71 nunca chega a Teresa Cristina, pombas! Acho que a minha cara de espanto foi
muita. “Você fala português?” me pergunta o exu, achando que sou gringo. Mal
balbucio que entendo tudo que acontece.
Gosto de
uma peça. Um modelo com estampa de fitas do Bonfim, em tons de cinza,
interessante. Estava prestes a levar. “Tem que vestir pra ver como fica.” Eu não
estava pensando em provar, mas aceitei. O vendedor vem com a canga e eu troco. Vestiu
legal, até. Pergunto de não teria um modelo daqueles em cores, até como forma
de sugestão de estampa. “Assim fica muito colorido. Coloca a bandeira do arco-íris
de uma vez, então! Pois se fizer ma sunga assim só vou vender pra gay.” Eu dou
uma olhada em volta e penso: como assim?! Onde o sujeito acha que está? Na
porta do Maracanã?!?!?! Ele não reconhece o público dele ao redor?!?!?!
Nesse
momento decido não levar nada. “Olha só esse tecido molinho, fixa bem no corpo.
mostra mais, etc…”, ele insiste. “eu não gostei” respondi, seco, mostrando que
era fim de papo. Foi então que aquele umbral ambulante fez a coisa mais grosseira
possível: me estendeu a canga que usava de vestiário pra eu me trocar. “Você
consegue sozinho.”
Quase não
acreditei. Pedi ajuda ao Personal, que estava comigo, tirei a sunga e deixei
cair no chão, pisando em cima. “Sunga na areia!”, diria Cleyciane. A cacura
ficou puta da vida quando viu a peça dela à milanesa e começou a me praguejar. Viro
as costas e deixo aquela mistura de Clodovil com Elza Soares resmungando
sozinho.
Verdade
seja dita, eu até tinha gostado da sunga, e o preço era bem menor do que eu
costumava pagar com os outros vendedores. Mas detestei o atendimento recebido,
e por isso não comprei. Quase disse isso na cara do sujeito, mas ainda bem que
não o fiz. Ele não merece sequer esse toque. Mas aos amigos do blog, fica a
dica. Atendimento é tudo!