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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Pocket crisis



Nos últimos dias passei mais uma das minhas crises existenciais instantâneas. Desta vez ela veio ainda mais aguda, tanto em termos de intensidade quanto em rapidez.

Só pra explicar: trabalho em dois lugares, sendo que um deles é um negócio próprio e o outro um serviço público. Há cerca de dois anos, o Poderoso Chefão da instituição pública estabeleceu uma norma que, na teoria, estabeleceria uma incompatibilidade entre minha função pública e minha atividade privada. Diga-se de passagem, uma norma que ele NÃO tem autoridade para estabelecer!

Obviamente não concordei com essa história e, mesclando boas doses de coragem, teimosia e cara-de-pau, sustentei ambas as atividades, sem esconder isso de ninguém. Cedo ou tarde, chegaria uma hora que esta situação poderia não se sustentar. Agora, depois de dois anos, “a hora” resolveu mostrar-se iminente.

Um ofício recebido na última sexta-feira me fez encarar um dilema que eu insistia em postergar: e se eu simplesmente me vir obrigado a optar entre uma ou outra das minhas atividades? Esse dilema não tem a ver apenas com a opção entre uma de duas fontes de renda (que, juntas, sustentam meu atual padrão de vida, que inclui o “luxo” de morar sozinho e pagar as próprias contas sem pedir nada a ninguém). Tem a ver com opções de vida, com projetos, com realização pessoal, com senso de liberdade, e com uma série de outras questões que emergem do tornado emocional.

Depois de muito tempo, senti MEDO. Estava inseguro. Impotente. A situação se mostrava fora de meu controle. Mas uma vez, quase entrei em pane.

No final de semana decidi não encarar o problema e, de quebra, meti o pé na jaca! Segunda-feira, a sensação de insegurança encontrou terreno fértil nas ressacas alcoólica e moral para se disseminar. Ô dia essa segunda... ô noite até terça...

Mas como minhas crises não têm prazo de validade muito longo, nesta terça-feira já começo a ver que o bicho não é tããããão feio assim. Claro, ainda não há nada resolvido, mas já segurei as pontas e não vou me desesperar. Vamos ver no que vai dar.

Agora, só pra descontrair, registro o seguinte diálogo:

Segunda-feira (da crise), estou bem voltando do(s) trabalho(s) para casa, chateado pra caramba, quando percebo no meio do caminho um lugar novo. Uma casinha colorida, com uma placa anunciando um novo barzinho. O local te um aspecto bacana, acolhedor, mas não dava pra ver muita coisa do lado de fora. Algo muito peculiar me fez cruzar a rua e ir conversar como segurança na porta, mas ainda não sabia o que era.

- Oi, esse lugar é novo?
- Sim. Abriu na sexta-feira.
- Ah, e como funciona?
- Olha, vai funcionar todos os dias, abrindo às 18 horas. Ambiente bacana. De sexta a domingo tem música ao vivo, etc.
- Poxa, bacana!
- Só que tem uma dificuldade...
- E qual a “dificuldade” (perguntei, já imaginando a resposta).
- É que aqui é uma casa GLS...

Bingo! Não foi à toa que senti algo quase “me chamando” para aquele lugar. Mas, porra! “Tem uma dificuldade??” Tá certo que o cara tem que avisar aos incautos, mas parece que o rapaz não está ainda muito habituado a lidar com a situação. Pensei na hora que se eu fosse dono do local e ouvisse isso, acho que ele não precisaria voltar no dia seguinte. Como não sou dono de buteco nenhum, tratei apenas de desanuviar a saia justa que o segurança nem sabia que tinha provocado:

- Pois é, dificuldade pra uns, facilidade pra outros...
- É verdade! (Ele respondeu sorrindo).

Menos mal, então. Quem sabe o moço não pescou a mensagem e se tocou? No meio da crise, este diálogo me fez seguir em frente sorrindo por uns quatro quarteirões.

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