Sempre achei que tenho certa vocação pra psicólogo, ou conselheiro, ou ouvinte - dependendo do interlocutor, a função também varia. Já relatei aqui em posts anteriores como certas pessoas vêm, do nada, me contando detalhes de suas vidas, seus problemas afetivos, profissionais, familiares, etc. Contei também como tive que aprender a, em alguns casos, apenas escutar e não dar muito palpite, sob o risco de estragar grandes amizades.
De qualquer modo, meu ímã para ouvir problemas alheios sempre esteve funcionando, e escutar os outros, no fim das contas, é algo que normalmente me dá até um bocado de satisfação. Uma sensação de ajudar, dar atenção, coisa nesse sentido. Mas nas últimas semanas tenho encarado um desafio que se mostra além da minha capacidade.
Nesse período uma de minhas irmãs tem passado por grande instabilidade emocional, fruto da iminência do término de uma relação de muitos anos. Assim, vários questionamentos têm passado por sua cabeça, sobre suas opções de vida, sua postura, sua imagem perante os outros, etc. A vontade de ajudá-la nos levou a uma proximidade que antes não tínhamos, o que é um lado positivo desta história.
Acontece que de uns tempos pra cá a coisa está indo além dos meus limites, pois a carência dela por atenção chegou a um ponto que eu não posso e nem quero suprir. Pior, me parece que na sua extrema insegurança, ela, de forma consciente ou não, acaba por transferir aos outros o ônus de certas decisões de cunho estritamente pessoal. Coisas do tipo "me diz o que eu devo fazer agora"?
Como é que pode eu ter tanta paciência para outras pessoas e não conseguir mais parar pra ouvir os pensamentos de uma irmã que evidentemente precisa de apoio? Parece paradoxal, pois a pessoa que eu mais quero ajudar eu não consigo.
O que me chateia - e já disse isso a ela - é que em alguns momentos eu não me sinto num papel de irmão, mas sim de psicólogo. Ao invés de um bate-papo, nossas conversas mais parecem uma consulta de análise (e olha que ela já tem um analista muito bem pago pra exercer esse papel). Com isso, ao invés de me aproximar, ultimamente tenho me afastado e, na insistência dela por certas respostas, acabo me tornando propositadamente grosso, beirando a falta de educação.
Falta a muitas pessoas a capacidade de perceber quanto uma conversa se encerra, quando um assunto acaba, quando é melhor parar de falar, pra coisa não piorar. Sábio é aquele que consegue perceber a hora de colocar um ponto final nas coisas, virar a página e seguir em frente.
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