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quinta-feira, janeiro 28, 2010

Conquistando a clientela

O Mercado Central é um conhecidíssimo ponto turístico de Belo Horizonte. A construção antiga tem centenas de barracas, com os mais diversos produtos. Frutas, legumes, especiarias, produtos naturais, ervas, artesanato, queijos, cachaças, animais vivos (!) e muito mais. Sem contar com o famoso corte de cabelo, que vem com um abacaxi de brinde.

Uma das maiores tradições do Mercado Central são seus bares, muitos deles colocados frente a frente em alguns de seus estreitos corredores. Na verdade, são pequenas vias de passagem entre os corredores maiores. (Fiquei um tempão aqui pensando em como melhor descrever a disposição dessas lojas sem apelar para conceitos geométricos chatos e desisti. Quer mais detalhes? Procura aqui.)

Nesses lugares, as pessoas se aglomeram pra beber cerveja (ideal pra quem gosta de "tomar em pé" - hehehe) e beliscar uns tira-gostos, como o também tradicional fígado com jiló acebolado.

Dada a acirrada concorrência, muitos dos atendentes de penduram nos balcões com garrafas de cerveja gelada nas mãos para atrair as pessoas que passam, como se estivessem "pescando" os clientes. Essa prática gera cenas inusitadas e engraçadas, que reforçam o caráter pitoresco e animado do lugar.

Poderia escrever aqui sobre como nos últimos anos muitos gays têm dado as caras por aqueles lados, senqie que já se pode identificar alguns pontos em que o Mercado parece sempre estar mais florido. Mas esse é um fenômeno que acontece por toda cidade, e o que me motivou a escrever este post foi outra constatação

Outro fim de semana, passando pelos corredores do Mercado Central, me dei conta de outro tipo de assédio a clientela muito comum, que acontece não é de hoje, mas sobre o qual não vi ninguém escrever ainda. É que tem um corredor onde se concentram várias lojas de suplementos alimentares, destinadas ao pessoal da malhação, vendendo Whey Protein, Albumina, Mega Packs, Fat Burners, e produtos afins.

Obviamente são escolhidos para trabalhar nessas lojas os caras mais gatos, com corpo sarado, bem exibidos em uniformes justos. E é só passar um cara com potencial de comprador (nem precisa muita coisa, basta usar uma camiseta e uma bermuda) que esses caras logo começam a mexer. "E aê, chagado. Precisando de alguma coisa?"; "Falaê, mermão. Chega mais aqui."; "Opa, campeão. Posso te ajudar?"; "Ow, fera. Procurando algo?". É algo de levantar qualquer moral você passar por esses corredores e se ver assediado por tantos caras bonitinhos e gostosinhos, e com tamanha insistência.

Dizem que o melhor tratamento para uma mulher deprimida e de baixo astral é colocar uma saia curtinha e passar na frente de uma obra, pra ouvir as cantadas do pessoal dos andaimes. Pois bem, guardadas as devidas proporções, posso dizer que o vendedor de suplementos é o equivalente gay do peão de obra.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Outings (1)



Sábado, 16 de janeiro de 2010

Eu = eu mesmo
Irmã do meio = minha irmã do meio
Personal = meu namorado (Apelido escolhido pela profissão dele. Ele é higiênico sim, mas não na forma de rolo de papel.)

Tarde, ao telefone, falando com irmã do meio.
Eu: Estou indo a uma peça da Campanha de Popularização do Teatro hoje junto com Personal. Quer ir junto?
Irmã do meio: Claro!

Início de tarde, saindo do teatro,
Irmã do meio: Para onde vamos agora? Estou a fim de dançar. Vamos para o Demodée?
Eu: Irmã, eu não estava planejando isso. Estamos até de bermuda.
Irmã do meio: É só passar na sua casa e trocar, oras. Anima, Personal?
Personal: Por mim, bacana. Eu animo. Vamos?
Eu: Vamos lá pra casa, então.

Pouco depois, em casa, Irmã do meio abre a geladeira.
Irmã do meio: Que torta é essa aqui na geladeira?
Eu: É uma torta doce, náo tá vendo?
Irmã do meio: Noossaaaaa. Foi aniversário de alguém???
Personal corre pro banheiro, pra segurar o riso.
Eu: É só uma torta, Irmã. Deixa de ser curiosa!

Na sequência, no banheiro.
Personal: Meu Deus, sua irmã é muito sem noção. Tive que vir pro banheiro pra não rir.
Eu: Quase que eu falei. Foi por pouco. Mais um pouco e eu acabo falando.

Saindo da boate. Dentro do carro. 03:30 da madrugada de domingo. Eu cansado, e doido pra ir embora, e na direção. Irmã do meio chapada, enchendo o saco porque queria ficar mais. Personal apenas observando no banco de trás.
Irmã do meio: Não acredito que você ia embora e ia me deixar lá sozinha.
Eu: Depois de quatro caipivodkas na sua cabeça eu não ia e deixar é dirigir o carro. Se quisesse ficar, tudo bem. Mas dirigindo você não voltava pra casa.
Irmã do meio: Ah, você está muito chato. E nem me deu um pedaço daquela torta lá da sua casa, que eu não sei de que ela é...
Eu (irritado): Quer saber? Aquela torta é de aniversário. Um ano de relacionamento. Eu e Personal.
Personal dá um salto de susto no banco de trás.
Irmã do meio: ...
Eu: ...
Personal (cara de paisagem): ...
Irmã do meio: Um ano? Parabéns, meu irmãozinho!
Eu: ?!?!
Irmã do meio: E parabéns pra você também, Personal. Meu cunhado!
Personal: ?!?!?!
Eu (surpreso e aliviado): Brigado. Amanhã eu te dou um pedaço da torta.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Comemoração


Hoje completo um ano de relacionamento. Uma história que começou despretensiosa, que poderia ter durado uma noite apenas. Mas que ganhou sobrevida por uns dias.... Por umas semanas... Por uns meses... E o que talvez não fosse virar nada sério, com o tempo, virou namoro.

Admito, não devo ser uma pessoa muito fácil de se relacionar. A data que comemoraremos hoje tem muito a ver com a paciência dele, com a persistência dele e, principalmente, com o fato de ele saber respeitar meus limites, meus conflitos e meu tempo. Lembrando de nossos primeiros meses, no lugar dele, penso que eu teria me dado um pé na bunda muito fácil.

Hoje tem comemoração lá em casa. massa, carne, vinho, e uma torta de trufada da Boca do Forno (essa da foto acima) que acabei de encomendar.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Sutileza


Um grande amigo me manda um email, com uma série de pensamentos e lembranças sobre sua vida, seus medos, seus atos, erros e acertos. Indagações detonadas após ver o filme "Do começo ao fim", já exaustivamente abordado na blogaysfera em geral. De todo emocionado (e emocionante) texto recebido, destaco uma frase que faço questão de registrar aqui:

"O amor é tão sutil que demorei seis anos para percebê-lo com clareza."

Leio esta frase e penso no sofrimento não apenas dele, mas também de muitos de nós, que têm relutância em se entregar aos sentimentos e, às vezes, desperdiçamos grandes oportunidades de sermos felizes. Grande é o mérito de quem é capaz de perceber a tempo essas sutilezas da vida, especialmente quando se vive o desafio do amor entre iguais.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Fala que eu te escuto?



Sempre achei que tenho certa vocação pra psicólogo, ou conselheiro, ou ouvinte - dependendo do interlocutor, a função também varia. Já relatei aqui em posts anteriores como certas pessoas vêm, do nada, me contando detalhes de suas vidas, seus problemas afetivos, profissionais, familiares, etc. Contei também como tive que aprender a, em alguns casos, apenas escutar e não dar muito palpite, sob o risco de estragar grandes amizades.

De qualquer modo, meu ímã para ouvir problemas alheios sempre esteve funcionando, e escutar os outros, no fim das contas, é algo que normalmente me dá até um bocado de satisfação. Uma sensação de ajudar, dar atenção, coisa nesse sentido. Mas nas últimas semanas tenho encarado um desafio que se mostra além da minha capacidade.

Nesse período uma de minhas irmãs tem passado por grande instabilidade emocional, fruto da iminência do término de uma relação de muitos anos. Assim, vários questionamentos têm passado por sua cabeça, sobre suas opções de vida, sua postura, sua imagem perante os outros, etc. A vontade de ajudá-la nos levou a uma proximidade que antes não tínhamos, o que é um lado positivo desta história.

Acontece que de uns tempos pra cá a coisa está indo além dos meus limites, pois a carência dela por atenção chegou a um ponto que eu não posso e nem quero suprir. Pior, me parece que na sua extrema insegurança, ela, de forma consciente ou não, acaba por transferir aos outros o ônus de certas decisões de cunho estritamente pessoal. Coisas do tipo "me diz o que eu devo fazer agora"?

Como é que pode eu ter tanta paciência para outras pessoas e não conseguir mais parar pra ouvir os pensamentos de uma irmã que evidentemente precisa de apoio? Parece paradoxal, pois a pessoa que eu mais quero ajudar eu não consigo.

O que me chateia - e já disse isso a ela - é que em alguns momentos eu não me sinto num papel de irmão, mas sim de psicólogo. Ao invés de um bate-papo, nossas conversas mais parecem uma consulta de análise (e olha que ela já tem um analista muito bem pago pra exercer esse papel). Com isso, ao invés de me aproximar, ultimamente tenho me afastado e, na insistência dela por certas respostas, acabo me tornando propositadamente grosso, beirando a falta de educação.

Falta a muitas pessoas a capacidade de perceber quanto uma conversa se encerra, quando um assunto acaba, quando é melhor parar de falar, pra coisa não piorar. Sábio é aquele que consegue perceber a hora de colocar um ponto final nas coisas, virar a página e seguir em frente.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Dois pesos e nenhuma medida


Quatro meses sem refrigerante fazem diferença. Passar a almoçar saladinha também ajuda. Já chutar o balde no reveillon, com cerveja, vodka com energético, churrascos, massas, sorvete, mousse de chocolate e etc. também fazem diferença - e efeito muito mais rápido.

São os dois lados da balança, sendo que a minha digital (dessas de banheiro) entrou 2010 sem funcionar. Ironia do destino, ou uma providência divina, pra eu não poder ver como meses de sacrifício podem ir embora em um final de semana prolongado?

Pelo sim, pelo não: da-lhe academia!

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Ano velho e novos convites



Hoje é o último dia de trabalho "pela metade". Amanhã voltamos à nossa programação normal, com prazos correndo e equipe quase completa. Como não tive folga no final de ano (tirando a viagem de reveillon) minhas férias do ano passado só vão começar pra lá da metade de janeiro. Por isso, nesse ponto, me sinto ainda num rabicho de 2009.

Hoje um amigo hetero que estava no reveillon me ligou pra me chamar para seu aniversário, e fez questão de estender o convite ao meu namorado (bom, ele não usou esta palavra, mas o convidou pelo nome mais de uma vez). Em tempos atrás, eu iria sozinho, muitas vezes o deixando à minha espera em casa.

Aliás, dias atrás, minha irmã também já me chamou (pela enésima vez) pra passar um final de semana na casa que ela aluga na Serra do Cipó. Só que dessa vez também estendeu o convite ao namorado (bom, ela não usou esta palavra, mas algo me diz que ela já desconfia...). E olha que ela o conhece há cerca de um mês apenas.

E 2010 começa com a filosofia de escrever pouco, para escrever sempre.

Tempos de mudanças.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Vida nova



A gente fica mesmo mais animado depois de quatro dias de "férias". Depois de um final de ano praticamente infernal, com acúmulo de trabalho, baixa no rendimento e alta no estresse, o ano novo veio realmente com cara de "vida nova".

Quase quatro dias. Quase sempre com sol. Quase todos os meus amigos de colégio. E o namorado à tiracolo, quase sempre ao meu lado. E quem quase não sabia, ou quase desconfiava, deve ter passado da quase certeza, mas quase ninguém tocou no assundo. A excessão foi uma garota que eu não conhecia, que eu até agora não tenho certeza de que seja hetero. Quer virar amiga, mas me adicionar no orkut me chamando de "gata" não ajuda muito...

Por pouco não fui ao reveillon/final de semana pois meus amigos todos estariam "de casal", mas incentivado pela organizadora do evento, levei meu casal para lá, e vivi dias fantásticos, tanto pelo carinho explícito quanto pela aceitação velada, mas igualmente evidente.

Assim começa 2010, com ares de revelação conquista de novos limites, não mais em conta-gotas, mas por atacado. A próxima fronteira e o grande tabu: família. Os primeiros sinais já foram enviados e, logo, aguardo as primeiras respostas.

Sou grande demais pra me esconder neste armário indefinidamente.
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